sexta-feira, 28 de março de 2014

Trocando cabeças

De ponta cabeça na mesa, sem pe nem cabeça
Quebra cabeça, quebra
Virando a mesa que quebra cabeça
Batendo a cabeça na mesa de pé na cabeça
Para que quebre a cabeça, quebra-cabeça
Quebra a mesa mas não quebra a cabeça
Na ponta da mesa, de ponta cabeça sem ponta

pé de cabra cabeça, pede cubra cabeça. 

segunda-feira, 18 de julho de 2011

Messias





Em um dia desses pousou ao meu lado um pássaro. Qualquer pássaro não, um passarinho. Ficamos bem próximos de forma que ele teimava em falar comigo piando e eu me comunicar com ele sem um pio. Varias histórias ele me disse e me pareceu que em toda existência da terra as moléculas foram se rearranjando na tentativa de chegar a nossos dois corpos juntos naquele momento específico. Foi como se toda a história da evolução tivesse como finalidade nosso diálogo de pio-não-pio.


Engraçado aquele bichinho. Sinalizava, gesticulava como se reclamasse do trabalho ou da dor de cabeça da mulher, enfim, ia piando como meus amigos fariam no desabafo de um dia pesado. Acontece que reparando no seu exclamar reclamão da vida ele narrava para mim meus próprios pensamentos como se estivesse a sei lá quantos dias sobrevoando minha cabeça e formulando opiniões muito xeretas e ousadas sobre mim. A surpresa ia crescendo a ponto de o desgraçado bancar o professor, a palestrar com didática como se eu nada soubesse sobre minha própria vida. Será que eu sabia? Aquilo tudo foi raro demais para ser verdade e importante demais para me internarem num hospício.


Era isso, estava presenciando um acontecimento de grande importância , mas aquele bichinho esnobe cheio de pena que, se por um acaso bizarro decidisse se especializar ainda mais na vida de um humano não conseguiria sequer amarrar um sapato, estava me irritando de uma forma que me sentia infantil. Falava e gritava cheio de aflição e confiança e aquilo tudo foi me deixando ainda mais humilhado, vermelho, criança. Criança pequena que encolhia sem parar até que literalmente me tornei menor que aquela bolinha de penas marrons e não ia mais ouvir merda dele. Nem da minha mãe eu ouço tanto conselho, porque é que ia deixar um desdentado que caga e mija ao mesmo tempo meter o dedo na minha cara e falar assim comigo? Aqui não seu bosta! Tomaria uma atitude nem que fosse para acabar num churrasquinho penado.


Pensei numa bela pedrada bem no bico, daquelas que deixa até o mais perverso dos pirralhos com um olhar de remorso. Naquele momento eu era um moleque e, portanto, pensava como um. A diferença era que no meu caso não haveria tanto remorso quanto prazer naquele ato. Como de costume, porém, não me deixei levar pela primeira idéia, mas sim, pela segunda. Eis que me ocorre que aquele pássaro era muito raro para matar como uma pomba desse jeito. Caso tivesse cagado na minha cabeça e pousado do meu lado era uma coisa, mas um passarinho conselheiro é puro ouro!


Fingia que ouvia o filho-da-puta, concordando com a cabeça e uma cara perplexa de quem reflete sobre os próprios defeitos. Olhei para o lado e, estando no quintal, justamente na área em que meu pai sempre escolhe para ler seus livros e tomar sua cerveja, agarrei um copo meio melado e enfiei por cima do pentelho cor de bosta. Ele era um bosta, um estorvo que de duas uma: ou me daria meus 15 minutos de fama por achar um pássaro que fala ou uma camisa de força bem apertada. Ambas valiam a pena naquele momento.


Por sorte e por destreza que a raiva trás consigo eu lancei um golpe certeiro. Foi um espanto tamanho que o cara-de-pau arregalou os olhos e ficou a me olhar de dentro do copo, como que esperando que eu o desculpasse e me comovesse com sua beleza à la National Geographic. Era tarde demais, eu já ouvira muito mais do que a cota máxima para um perdão tardio. Acontece que um bicho destes não está acostumado a ser aprisionado, ainda mais num copo fedendo cevada azeda. Esperneava e se depenava lá de dentro com algumas caretas melancólicas que falharam em surtir efeito, e sentia meu ego se recompondo com cada bater inútil de asas. Precisava agora era de tempo.


Não seria nada prudente de minha parte correr para uma agropecuária ou um colecionador de pássaros dizendo que tinha capturado uma coisinha tão peculiar como aquela. Pressa agora não era necessário e por dentro eu até queria que ele sentisse um pouco do sofrimento tão humano que é a prisão. Não quisera ele bancar o psicólogo? Pois agora brinca de detento que é tudo farinha do mesmo saco.


Levei-o com cuidado para meu quarto, não queria por um fim naquilo tão cedo. Por algum tempo fiquei sentado na minha cama admirando meu prêmio/prisioneiro, constatando com certo espanto que ele me encarava diretamente nos olhos. Condenava-me. Sentou-se também como que me imitando, tentando me incomodar até pela mímica uma vez que sua pequena voz de ave-gente seria abafada pelo vidro sujo. Não me deixei abalar, coloquei um pano por cima e tentei me distrair para tomar uma providência que não fosse se misturar com a raiva que sentia naquele momento. Já agora não sabia o que pensar da situação, e nem poderia ter tanta certeza de que meu pequeno prisioneiro era tão inofensivo assim. Aquilo tudo era muito confuso e surpreendente, e eu não tinha condição de tirar daquilo qualquer sentido. Pelo menos ainda não.


Alguns dias se passaram com tranqüilidade. Por ora me forçava uma sensação de que nada havia acontecido, ou melhor, não sentia nada pela própria necessidade de buscar alguma sanidade depois de um acontecimento tão estabanado como aquele. Pobre ilusão, quando que se reprime algo com sucesso? No terceiro dia eu já hesitava na minha tentativa de isolamento e ensaiava algumas olhadas para aquele pano em formato de copo no canto do quarto. Nem um pio. Nada que me convencesse que havia um pequeno milagre ali. O que seria ele afinal? Um profeta? O messias?! No fundo sabia que estava matando lentamente o coitado, pois nem passarinho vive sem ar nem comida por tanto tempo. Teria eu matado a segunda encarnação de Jesus Cristo? Porque diabos Jesus ia ter escolhido um passarinho como encarnação eu não sabia, mas quem sou eu para entender uma coisa dessas, logo eu que precisei de tantos beliscões e apertos no braço para me comportar nas missas que compareci. Não estava nem perto de chegar a um conceito claro daquilo tudo e desisti de decifrar aquele enigma que me afrontava do copo.


Agora não adiantava pensar, a minha decisão havia sido tomada sem um fiapo de raciocínio e o impulso e a raiva já haviam matado o coitado. Me deixei levar pelos sentimentos mais primitivos, matando um ser tão extraordinário que por descuido meu havia sido privado de comida e ar como uma praga. De certa forma ele era uma praga, mas uma bela praga de fato. Aquilo não ia nada bem e alguma coisa tinha que ser feita, afinal, aquele copo algum dia ainda veria muita cerveja.Estava decidido, tomaria minha primeira providência nobre e que recebia algum mérito: iria dar a ele um enterro de gente, coisa que sei que apreciaria muito, tão gente que era o pequenino.


Pus-me logo aos preparativos. Corro rápido para a cozinha e busco uma colher para me servir de pá na tentativa cabeçuda de diminuir o impacto da situação, mas já não importava. Espiei pela janela um bom local para me desfazer do pequeno pensador, um local que lhe garantisse sossego, um lugar que me garantisse esquecimento, já que uma falha minha em escolher sua vala faria com que meu cachorro logo o desenterrasse, me trazendo a peste de presente. No momento em que imaginei a cena da quase-bolinha marrom na boca do cão já me contorci de arrepios, e estabeleci seguro que meu quintal não seria cemitério de nada alem da minha cachorrinha que jazia a uns belos anos no seu canto cingelo. Ela foi um ser tão simples, obediente, diria até salivante.


Sem muito vacilar pensando na morte da bezerra decidi bem decidido que iria pôr fim nesta situação no gramado da frente de casa, estando assim nem cá nem lá. Cheguei ao meu quarto quase que correndo, querendo ver o coitadinho o mínimo possível entre erguer aquele pano e fechar sua vala com a colher. Chegara a hora de encarar minha crueldade, sufoquei a natureza e agora precisaria ser valente para encarar este enterro. Pus a mão sobre o copo e o levantei abruptamente sobre minha cabeça com os braços erguidos, a face desviante do medo de encarar a morte nos olhos. Nem um pio. Nada que me indicasse atividade. Olhei para a mesa e percebi logo minha ingenuidade. Como podia ter sido tão prepotente nos meus atos? Um arrepio de alívio logo me percorreu a espinha e um sorriso me tomou a cara quando entendi que não haveria o que enterrar. Nem vivo nem morto tive que olhar a cara daquele fenômeno de novo. Com o mesmo pano do copo limpei então o ultimo recado do pequeno messias: uma bela cagada no meio da mesa.


quinta-feira, 10 de março de 2011

Jardim de Inverno

Flor-de-seda pulsando no vento tão frio

me lembra a promessa de vida, bolor

A meta se entende, inverno no cio

Ansiedade se esconde por dentro da flor



Vejo que é grande onde jaz o calor

Segurando o cheiro e tempero que for

espremer o momento em que nada é tao frio

sinto que assim que se vive de amor

Tempestade em Copo de Tinta

O calor não me surge mais como antes. Não sei mais caminhar em direção ao sorriso e sinto uma força que fecha meus lábios na hora de dizer “Bom Dia”. Parece que meu vocabulário se esconde um pouco mais a cada dia, pula da boca macia, sai de mim e vai para qualquer pagina que não as que escrevo. Ando tão tímido que até meu espelho fica sem graça ao me ver. Ah, me cansei de pensar, mas, sei te afirmar que sou um camaleão um pouco inexperiente e não sei mais que cores mostrar. Passam os dias sem cor e a fumaça do cigarro dá o tom da minha fala. Trago a fumaça sem te trazer nada pra contar e assim pretendo ficar, até que meu vazio mude de cor novamente. Quem sabe então eu tenha mais simpatia e empatia pra te mostrar uma cor que seja minha porque agora, nem cinza!

Plutao

Ta escuro aqui, tem quarto pra todo canto e la, bem no meio, a minha poltrona. Minha poltrona brilha sozinha sem a lâmpada de leitura ou abertura da porta que da para o corredor. Sintonizo-me com a vontade de sentar e imaginar o infinito porque no escuro tanto faz. Se é a infiltração ou Vênus que procuro eu nem sei mais, porque no escuro tanto faz. Eu sei que tem história pra la da minha porta, porem esta historia de mais de mil homens não importa no espaço. Se eu abrisse o quarto, a luz torta corta a magia em relâmpago, e aí a galáxia se rompia em pedaços tão pequenos que não mais se juntariam numa mesma ideia. Entre marte e saturno se criaria um abismo minúsculo que ilumina meu armário, inestimavelmente me diminuindo para meu ponto. Pontozinho meu, no meio do quarto.

quarta-feira, 29 de setembro de 2010

Morzin

Cupido mirou no peito e me acertou no meio da testa, e foi assim que o cuzao me deu um amor platônico que mais se parece com uma enxaqueca. Vo deixar uns trocados embaixo do travesseiro que é para ver se a fada dos dentes me deixa uma aspirina.

Rotina de Operário

Pulo um segundo e vivo no outro
eu brinco de morto-vivo
carrego a canseira no sopro
descanso no ato não dito

Dia sim, dia não
é tudo um padrão que repito
antigo espiral contramão
carrosel de operário ancião
uma roda de raio infinito